Três meses se passaram desde o último Noticiário Pensante. Nesse meio tempo, fiz aniversário, teve a CPI das bets, vi o musical Wicked (IN-CRÍ-VEL!) em São Paulo, teve o Gagapalooza em Copacabana… Aqui estão alguns destaques pensantes desses meses loucos que passaram por nós.
👴 ELE MERECIA UM KERNING MELHOR: A morte do Papa Francisco em abril não foi exatamente uma surpresa — ele já estava bem mal de saúde há uns anos, afinal de contas — mas é com certeza o fim de uma era. O primeiro papa latino se foi. (Não obstante: ainda assim um papa…) Após cenas do Conclave da vida real, um novo Papa foi escolhido. Um estadunidense cidadão peruano de nome Robert Prevost, missionário de Chicago, que agora assina pelo novo nome drag Leão XIV. O que mais me chocou nisso tudo foi o kerning da tumba da maior figura político-católica dos últimos 12 anos: FR A N CISCVS. Como pode uma das instituições religiosas mais cunty de todos os tempos deixar passar uma dessas?
Eu quase posso perdoar essa gafe do kerning da tumba do Papa Francisco ao lembrar que o novo Papa usa um crucifixo que contém ossos de cinco santos católicos, dentre eles os próprios fragmentos de ossos de Santo Agostinho. O verdadeiro instrumento de um necromante de Dungeons & Dragons, para se dizer o mínimo. Como é surpreendente a tradição visual e simbólica de uma religião não-iconoclasta. Cunty indeed.
📖 UMA LEITURA SÍSMICA: Abril e maio foram meses que li muito, em parte porque em maio peguei a gripe antes de tomar a vacina da gripe (tomem vacina!). Li uns livros medícores um atrás do outro nesse meio tempo (Casas Estranhas de Uketsu, e Bruxas de Lorenza Lozano), mas em compensação me encontrei com boas leituras logo após essas gafes.
O grande destaque desses tempos foi o mangá de terror Sala de Aula à Deriva, vol. 1 do Kazuo Umezu, um dos mestres do Junji Ito que nunca havia sido publicado no Brasil. Quando fui para o Japão, comprei mangás (em japonês) do Kazuo apenas para apreciar a arte de um mestre (os mangás dele não têm furigana, o que torna impossível a leitura a partir do meu japonês básico), mas ter uma edição dele em idioma brasileiro é bom demais.

Num impulso de curiosidade repentino (eu pensando com meus botões: será que a autora de Cometerra não lançou mais nada novo esse tempo todo no Brasil??), fui atrás de autores e autoras que gosto muito e descobri novas joias literárias que os algoritmos falharam em me mostrar. Esta semana começo a leitura de James de Percival Everett — essa é a releitura de um dos meus livros favoritos (As Aventuras de Huckleberry Finn) e agora pela perspectiva do Jim! Sem contar que a capa na edição brasileira é um desbunde.
✍️ LANÇAMENTO DO MINHA MENTORIA: Já tem um tempinho que diversas pessoas me perguntam se eu faço ou faria mentoria, e este momento finalmente chegou. Lancei a braba e vou abrir mentoria para um grupo de até 10 pessoas. Estou bem feliz que finalmente vou oferecer esse serviço, pois o peso da palavra “mentor” sempre me soou uma responsabilidade imensa — foram os bons mentores que tive até agora que me ajudaram a ser a ilustradora e designer que sou hoje. E agora me sinto pronta para tankar essa responsabilidade que é ser chamada de mentora 😌 As inscrições estão disponíveis lá no site da Arte Revide.
🎶 O TEMPO DE FATO É REI: final de maio fui com minha mãe ao show do Gilberto Gil. Ironicamente foi meu primeiro show do Gil justo na última turnê da carreira dele. Eu sabia que seria um evento imperdível, mas me emocionei e meu coração triplicou de tamanho ao presenciar um dos nossos maiores sábios e maiores anciãos cantar e tocar ao vivo. Me lembrei do Ailton Krenak, que explica como as crianças krenak anseiam por serem antigas. Ao olhar a trajetória do Gil passar ao vivo num palco, eu também desejei por ser antiga. Numa sociedade etarista e machista como a nossa, esse sentimento me pegou forte e até agora reverbera em mim.



💥📍 FEIRA DE LACRES IMPRESSOS: eu infelizmente vou perder essa, mas eu queria muuuuuito estar na próxima POC CON em São Paulo que vai rolar agora no final de junho (20 e 21 jun), bem no feriadão. O evento é um dos maiores do país e vai estar cheio de artistas incríveis LGBTQIAP+ lançando e vendendo produtos lindos e arrebatadores. Alguns artistas que indico conferir os prints, quadrinhos e peças lindas ao vivaço nas mesas lá da POC CON: Vagalumie, Doki Rosi, Jpeg Feio.



🎬 O MELHOR FILME DO ANO ATÉ AGORA: toda indicação do Leandro Assis (assinem a newsletter do ícone!) é braba. Lá nos idos de 2019, ele foi a primeira pessoa a me falar que Parasita era o melhor filme de todos os tempos; ele lançou essa muito antes do filme sequer estar na lista de indicados do Oscar. Em abril assisti Pecadores após outra indicação certeira do Leandrinho. Dito e feito: é o melhor filme que vi este ano nos cinemas. Um filme que se passa no sul dos Estados Unidos bem no comecinho do gênero blues já seria tudo pra mim, mas aí vai lá o diretor de Pantera Negra e nos entrega uma história que fala sobre legado, música, resistência e… bem, Ryan Coogler, você é o culpado pelo retorno da minha fase vampiresca!!!!!
📺 SÉRIE DE VAMPIROS GAYS TRAMBIQUEIRAS: Pecadores criou o terreno necessário para que minha fase vampiresca voltasse com tudo. A Paula de 2005 está de volta!! Dei o play na nova série de Entrevista Com o Vampiro e pronto. Duas temporadas que vi em menos de duas semanas, e que estabeleceram três certezas: 1) Lestat é a canetada máxima da Anne Rice, 2) Finalmente um ator compreendeu o personagem Lestat em sua totalidade dramática e horrível e carismática, e 3) Toda vez que eu olho pro Lestat me faz pensar: “nossa, então é assim que uma gay se sente ao olhar pra uma loira fútil drama queen”. Fora o lacre que é o Lestat nessa nova adaptação, essa série é o exemplo perfeito de como dá sim pra atualizar histórias boas com a inserção de mudanças sutis e poderosas em personagens já estabelecidos e amados pelo público.
Normalmente eu me planejo para indicar apenas uma série incrível aqui na newsletter, mas recentemente assisti O Eternauta e desde então estou cada vez mais abublebe das ideias (no bom sentido). Como é incrível assistir uma história de ficção científica sobre invasão contada por latinos, por gente que também sobreviveu uma invasão colonialista e até agora vive as consequências disso. Estadunidenses could never. Ah, e para variar, é mais outra canetada do muso latino decolonial Ricardo Darín. Gracias a Dios nací en Latinoámerica!
Câmbio, desligo. Até o próximo noticiário!
Estou na newsletter da Paulaaa! Obrigada, amiga!